A educação inclusiva é um campo que se encontra marcado por necessidades
que devem ser examinadas sob diversas perspectivas, pois sua proposta inovadora
implica um remanejamento e uma reestruturação radicais na dinâmica da escola.
Devido a esta complexidade, a abordagem das questões educacionais, e da
educação inclusiva, exige a contribuição de diferentes disciplinas, para que
procedimentos de diferentes campos de saber possam ser utilizados no sentido de
esclarecer e orientar educadores diante do imenso desafio de adotar uma prática
pedagógica que privilegie a diversidade na escola.
Ainda é um assunto que gera muito debate, discussões e
dúvidas acerca do que é mais adequado tanto para estas crianças especiais
quanto para as ditas normais. A pessoa com deficiência é um ser humano que
merece atenção e respeito, e que deveria ser aceita pela sociedade sem
discriminação, mas na realidade as coisas funcionam diferentes. Existem muitas
barreiras que precisam ser ultrapassadas para que estas pessoas sejam inclusas
socialmente como cidadãs, com direitos e qualidade de vida.
Existem também diversas políticas públicas que foram criadas
a fim de garantir direitos às pessoas com necessidades educacionais especiais.
Entre elas a Constituição de 1988, o PNE- Plano Nacional de Educação, a
Declaração de Salamanca, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
dentre outras aqui não mencionadas.
A educação inclusiva constitui um paradigma educacional
fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e
diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade
formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão
dentro e fora da escola.
A inclusão destas crianças na escola é um princípio de
valorização do ser humano sem nenhum tipo de preconceito, para que elas possam
exercer sua cidadania e se sentir integradas na sociedade, participando
ativamente do processo de aprendizagem e das atividades educacionais propostas,
contando com o apoio da escola, da equipe multidisciplinar, professores,
família e comunidade.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Para garantir o direito de todos os alunos,
independente da sua condição, de estarem juntos participando e aprendendo, sem
ser discriminado, o Ministério da Educação apresenta a Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que visa constituir
políticas públicas promotoras de uma educação de qualidade para todos.
A Constituição Federal de 1988 tem como
objetivos fundamentais “promover o bem de todos, sem preconceito de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art. 3°
Inciso IV). Define no artigo 205, a educação como um direito de todos,
garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a
qualificação para o trabalho. No seu artigo 206, Inciso I, estabelece a
“igualdade de condições de acesso e permanência na escola”, como um dos princípios
para o ensino e, garante como dever do Estado, a oferta do atendimento
educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art.
208).
O Plano Nacional de Educação- PNE, Lei
n°10.172/2001, destaca que “o grande avanço que a década da educação deveria
produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à
diversidade humana”.
A Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) tornou-se um
importante marco na luta em defesa da escola inclusiva e tem como ideia
norteadora o direito à educação, considerando as características dos alunos,
com uma proposta de pedagogia centrada na criança e que respeite suas
limitações e potencialidades. Esse documento destaca ainda as necessidades de
as escolas serem projetadas com adaptações na edificação, afirmando que as
políticas públicas devem prover a formação de professores voltada para a
inclusão.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
aprovada pela ONU em 2006, da qual o Brasil é signatário, estabelece que os
Estados Parte devam assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os
níveis de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e
social compatível com a meta de inclusão plena, adotando medidas para garantir
que:
a)As pessoas com deficiência não sejam
excluídas do sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as
crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino fundamental gratuito e
compulsório, sob alegação de deficiência;
b)As
pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino fundamental inclusivo, de
qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais pessoas na
comunidade em que vivem (Art.24).
A Lei garante educação para
todos, mas será que isso acontece na pratica? A inclusão é um assunto que gera
muitas dúvidas e discussões, principalmente entre pais e professores. Muitos
acreditam que crianças especiais devam frequentar escolas especiais. Mas e a
inclusão, como fica? É dever do Estado oferecer ensino em escolas regulares
para essas crianças. Atualmente muitas escolas já adotam a inclusão, mas
infelizmente existem professores sem qualificação para trabalhar com criança
especial. Algumas escolas oferecem o Atendimento Educacional Especializado
(AEE) no contra turno, com professores capacitados para ensinar as crianças com
necessidades educacionais especiais (NEE).
O termo “necessidades especiais” não deve ser tido como sinônimo de
deficiências, uma vez que as necessidades educacionais podem ser identificadas
em várias situações representativas de dificuldades de aprendizagem como
decorrência de condições individuais, econômicas ou socioculturais dos alunos
(Brasil 1999). Sendo assim, ao tratar da questão da educação dos deficientes
dentro do âmbito da educação para os alunos com NEE, e esta dentro do princípio
de educação para todos, a proposta da inclusão abre espaço para que se rompa
com o dualismo existente entre educação regular e especial. Entretanto, não se
pode discursar que as crianças com deficiência possuem características
diferentes das demais que compõem o universo dos alunos com necessidades
educativas especiais (Bueno, 2001).
A falta de conhecimento e a super-proteção dos pais, leva-os a tomar
decisões nem sempre condizentes com a real necessidade da criança. Muitos tem certo
receio, e preferem acreditar que só a inclusão é necessária, que o AEE não tem
importância, e se esquecem que nem sempre o professor do ensino regular é
especializado e o processo de ensino e aprendizagem deste aluno fica
prejudicado. O ideal para as crianças com necessidades especiais é que a
inclusão seja feita no ensino regular e no contra turno ela receba um
atendimento especializado.
O que vem a ser AEE? AEE é um Atendimento Educacional Especializado,
cujo professor responsável trabalha em sala de recurso, ambientes adaptados
para receber alunos com uma ou mais deficiências, esse atendimento ocorre geralmente
no contra turno.
O
objetivo do AEE é preparar os alunos para desenvolver habilidades e utilizar
instrumentos de apoio que facilitem seu desenvolvimento. Normalmente essas
aulas são oferecidas em salas de recursos multifuncionais, que são salas equipadas
com materiais pedagógicos e tecnologias que venham a complementar o ensino e
facilitar a aprendizagem. Existem inúmeros materiais que podem auxiliar o aluno
com NEE. Desde um lápis adaptado até um software, tudo é tecnologia. O desafio
é descobrir o que existe ou pode ser criado para beneficiar cada criança.
O AEE não pode ser confundido com aulas de reforço. Ele serve par
auxiliar o aluno a adquirir habilidades que são essenciais para garantir o bom
desempenho nas aulas regulares.
Para
que a aprendizagem dessas crianças seja efetiva, a parceria entre o professor
do ensino regular e do AEE é fundamental, assim como fazer um planejamento
conjunto para cada aluno, determinando quais as atividades serão desenvolvidas
e o tempo previsto.
RELAÇÃO PROFESSOR X FAMÍLIA
É
fundamental a participação da família neste processo para o desenvolvimento do
aluno. São indicados encontros
periódicos, nos quais o professor explica em que se baseiam as adaptações nos
conteúdos e nos materiais, feitas para atender às necessidades da criança.
É
importante explicar à família que a adaptação do currículo não é definida pela
deficiência, mas pelo repertório e pelos conhecimentos do estudante.
A
escola deve estar aberta à participação dos pais, para que esteja claro aos
pais a seriedade da proposta pedagógica específica do filho, e também para que
se possam oferecer recursos necessários para que seja possível realizar
atividades em casa.
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A
política de formação de professores para inclusão de estudantes com deficiência
é preconizada desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB n°
9.394/96, que define que os sistemas de ensino devem assegurar professores
capacitados para oferecer uma educação de qualidade com currículos, métodos,
técnicas, recursos educativos e organizações específicos que atendam às
necessidades desses educandos (Brasil, 1996).
No
entanto, anos após a promulgação desta Lei ainda é possível constatar que os
professores da escola básica se consideram despreparados para o trabalho com
estudantes com deficiência.
A
ausência de conhecimento do professor sobre as particularidades das
deficiências, o não reconhecimento das potencialidades destes estudantes e a
não flexibilização do currículo podem ser considerados fatores determinantes
para as barreiras atitudinais, práticas pedagógicas distanciadas das
necessidades reais dos educandos e resistência com relação à inclusão.
Alguns
professores desenvolvem uma visão de que o aluno é incapaz, e acabam por abandoná-lo,
não favorecendo situações de interação que possibilitem o avanço cognitivo e o
desenvolvimento desse sujeito.
A
inclusão educacional requer professores preparados para atuar na diversidade,
compreendendo as diferenças e valorizando as potencialidades de cada estudante
de modo que o ensino favoreça a aprendizagem de todos. A falta desta formação
gera o fenômeno da pseudoinclusão, ou seja, apenas da figuração do estudante
com deficiência na escola regular, sem que o mesmo esteja devidamente incluído
no processo de aprender. Estar matriculado e frequentando a classe regular não
significa estar envolvido no processo de aprendizagem daquele grupo.
Não
basta garantir o acesso destes estudantes à escola regular, é necessário o
apoio ao docente para que esta inclusão aconteça garantindo-se a igualdade no
atendimento pedagógico. Isso requer uma formação docente que envolva o respeito
e a compreensão da diversidade.
No
Brasil, assuntos relacionados à formação de professores ainda causam muita
polêmica nos meios educacionais. A formação docente é entendida como um
processo que tem origem na formação inicial e prolonga por toda a vida
profissional do educador.
Na
concepção de Freire (1996), ensinar não se restringe apenas à simples
transmissão de saberes prontos e cristalizados, mas sim, constitui um exercício
constante de autonomia, liberdade e amor ao trabalho.
ABORDAGEM
DE VYGOTSKY
A
teoria histórico cultural do psiquismo (ou sócio-histórica), também conhecida
como abordagem sociointeracionista tem como objetivo ”... caracterizar os
aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como
essas características se formaram ao longo da história humana e de como se
desenvolveram durante a vida de um indivíduo” (Vygotsky, 1998).
Vygotsky
considera o desenvolvimento da estrutura humana como um processo de apropriação
pelo homem da experiência histórica e cultural. Nesta perspectiva, a sua
premissa é de que as características tipicamente humanas resultam da interação
dialética do homem e seu meio sociocultural. A cultura é, portanto, parte
constitutiva da natureza humana.
A
obra de Vygotsky significa uma grande contribuição para a área da educação, na
medida em que traz importantes reflexões sobre o processo de formação das
características psicológicas tipicamente humanas e oferece elementos relevantes
para a compreensão de como se dá a integração entre ensino, aprendizagem e
desenvolvimento.
O
interesse de Vygotsky pela psicologia acadêmica começou a se delinear a partir
de seu contato, no trabalho de formação de professores, com o problema de
crianças com defeitos congênitos. Esta experiência o estimulou a encontrar
alternativas que pudessem ajudar crianças portadoras de deficiências. Seu
estudo sobre deficiência tinha o objetivo de contribuir na reabilitação das
crianças, como também significava uma excelente oportunidade de compreensão dos
processos de desenvolvimento mental humano.
Vygotsky
pondera que uma criança que tem um defeito não é necessariamente deficiente,
estando seu grau de normalidade condicionado a sua adaptação social. Ele afirma
que todas as deficiências afetavam antes de tudo as relações sociais das
crianças e não suas interações diretas com o ambiente físico, ”... o que decide
o destino da pessoa, em última estância, não é o defeito em si mesmo e sim as consequências
sociais, sua relação psicossocial” (Vygotsky, 1997).
Ele
se interessou em estudar as possibilidades de desenvolvimento da criança com
deficiência através da teoria de que todo defeito gera os estímulos para elaborar
a compensação. Por isto a avaliação dessas crianças não deve limitar-se a
determinar o nível de gravidade de sua insuficiência, devendo incluir
obrigatoriamente a consideração dos processos compensatórios no desenvolvimento
e na conduta da criança. O autor tece uma crítica à postura dos psicólogos do
desenvolvimento e dos educadores preocupados em avaliar o que a criança
deficiente não consegue fazer, propondo que se deve considerar o que ela pode
fazer sob condições pedagógicas adequadas.
A aceitação da criança deficiente pelos
colegas vai depender muito de o professor colocar em prática uma pedagogia
inclusiva que não pretenda a correção do aluno com deficiência, mas a
manifestação do seu potencial. Partindo
desses pressupostos, fica evidente o quanto é prejudicial para a criança com
deficiência ser privada culturalmente, através do impedimento de exercitar e
fazer parte das atividades próprias de nossa cultura
CONCLUSÃO
Em virtude dos
fatos mencionados, entende-se que os maiores problemas da questão da inclusão
são decorrentes do preconceito e da falta de qualificação profissional. As
Políticas públicas garantem o acesso de todos à educação, mas ainda é
insuficiente a proposta para formação de professores. Muitos professores acabam
em procurar ampliar seus conhecimentos por conta própria, sem auxílio do
governo e custos relativamente altos. Para que a inclusão seja efetivada com
qualidade é necessário que o Estado proporcione formação continuada para esses
professores.
Cabe também aos pais dessas crianças portadoras de
necessidades especiais, se conscientizarem e se informarem acerca das
políticas, e da escola pretendida para terem seus direitos contemplados e
acompanhar de perto todo o processo de aprendizagem, tanto no ensino regular
quanto no atendimento educacional especializado, e também recorrer a outros
serviços, como por exemplo, psicopedagogos, médicos, psicólogos, etc., para
garantir um melhor desenvolvimento de seus filhos.
Enfim, é um dever de todos apoiarem os movimentos de
inclusão, para que todo ser humano, independente da sua condição, tenha seus
direitos resguardados e seu lugar como cidadão nesta sociedade que ainda
precisa ultrapassar essas barreiras que induzem a distinção de pessoas.
REFERÊNCIAS
Sampaio, C.T., Sampaio, S.M.R. Educação Inclusiva: o
professor mediando para a vida. Salvador: EDUFBA, 2009.
Miranda, Teresinha Guimarães; Filho, Teófilo Alves Galvão.
O professor e a educação inclusiva: formação, práticas e lugares. Salvador:
EDUFBA, 2012.
acervo.novaescola.org.br
portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf
Ziliotto, Gisele Sotta. Educação Especial na Perspectiva
Inclusiva: fundamentos psicológicos e biológicos [livro eletrônico] – Curitiba:
InterSaberes, 2015.
Facion, José Raimundo
[organizador]- Inclusão escolar e suas implicações [livro eletrônico]-Curitiba:
InterSaberes, 2012.
Parabéns! Sucesso!
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirParabéns! Sucesso e realizações!👏👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigada!
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